Espiritualidade na infância
- Drª Ana Canhola

- 2 de out. de 2021
- 3 min de leitura
Estes dias estava a percorrer um dos grupos que sigo no FB quando me deparei com a opinião de um determinado indivíduo sobre a espiritualidade e o seu desenvolvimento em tenra idade. Segundo a sua opinião pessoal, isso seria de todo impossível.
No primeiro momento achei divertido que alguém afirmasse a plenos pulmões que desenvolver o lado espiritual ainda na infância não seria exequível, baseado apenas na sua própria experiência pessoal.
Mas depois o sorriso esboçado desapareceu, já que relembrei a minha própria estória e a de tantas outras pessoas minhas conhecidas... na verdade, a maioria relata que os primeiros anos de vida se revelaram prolíferos em experiências pouco convencionais no que toca à espiritualidade. Aliás, não é raro de todo encontrar relatos de crianças (com 4 anos e até menos) sobre as suas vidas passadas com detalhes arrepiantes e que acabam por ser confirmados. Dizem os entendidos que o véu que separa os mundos é ténue e transparente para os mais novos...
No meu caso pessoal, recordo que sempre tive uma atração natural para a magia, para as visões de entidades desencarnadas e até uma tendência bizarra para interpretar as simples cartas de jogo nas tardes que passava com a minha vizinha idosa a quem carinhosamente eu apelidava de "vó". O meu interesse pela cartomância fez-se notar, teria eu uns 8 anos de idade. Interiormente algo me dizia que haveria mais a compreender daquelas cartas do que apenas o seu valor facial. Antes de ingressar sequer na escola primária, tinha um portfólio vasto de visões um tanto peculiares, não só em casa mas como espaços exteriores e até na igreja que a minha família frequentava.
No meu ponto de vista, falta humildade para compreender que não somos todos iguais, que não vivemos as mesmas experiências e que temos sensibilidades diferentes para alguns temas rotulados como "tabus".
Os familiares mais chegados diziam que eu era dotada de uma imaginação fora do vulgar e muitas vezes desacreditavam os meus relatos. Principalmente a minha mãe, católica devota na época, demonstrava dificuldade em lidar com estas temáticas. Era um assunto que era debatido sempre de forma fria e que inúmeras vezes se relegava para os "assuntos proibidos".
Decidi partilhar a minha vivência contigo, já que na época foi difícil fazer-me ouvir e não quero que alguém passe pela mesma situação. Que nenhuma criança se sinta sozinha e oprimida, deslocada da realidade, como eu no passado!
Ora, não é preciso ser um brilhante cientista para perceber que este tipo de abordagem, por parte das figuras parentais, gerava em mim alguma instabilidade emocional e mental - sentia que estava a enlouquecer.
Anos mais tarde, já na minha adolescência, em conversa solta com a minha avó materna, descobri que este traço era comum na nossa linhagem familiar. Longos relatos de situações idênticas foram revelados. A minha própria avó materna, bisavó e alguns outros elementos femininos da minha família eram conhecidas (dentro do nosso núcleo) por ter uma "sensibilidade diferente" no que toca ao contacto entre mundos. A revolta transbordou! Como foram capazes de esconder isso de mim durante tanto tempo? Revisitar o meu passado, no que concerne este tema, ainda me gera alterações no sistema nervoso. E logo se manifesta um carinho enorme e especial pela coragem que a minha avó demonstrou ao abrir o jogo comigo, mesmo que à revelia da vontade dos meus pais.
Apesar do desconhecimento geral destes temas, por favor, procura informar-te. Dá espaço à escuta ativa, sem marginalizar a criança, sem ridicularizar os seus relatos e experiências. Escuta o que os mais novos têm a dizer e procura tranquilizar. Poderás ter uma criança espiritualmente diferente - "Cristal" - nas mãos, pura e de alta vibração. O apoio familiar é extremamente importante, principalmente em casos "especiais" como estes. A normalização e debate destes temas no seio familiar fazem-se urgentes. Fica o apelo à consciencialização:
Não temos de estar sozinhos. Não devemos estar sozinhos!






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